terça-feira, 3 de julho de 2007

A economia política da obesidade

O Estado de S. Paulo
25/4/2007

Por Luiz Weis

Dias atrás, falando à Associação Britânica de Estudos Políticos, o conhecido cientista social inglês Anthony Giddens, ou lorde Gidden, título que adotou ao ser incluído entre os pares do Reino, aconselhou o Partido Trabalhista a plantar no centro de sua agenda a temática que ele engloba na expressão "estilos de vida" - associando diversas questões do cotidiano, entre as quais a da dieta.

Entrelaçados, os termos estilo de vida e dieta parecem remeter à esfera um tanto frívola do "comportamento", como a mídia designa gostos, modas, costumes e atitudes em mutação. Estes dependeriam antes dos vagares da subjetividade humana do que daquilo que o velho e decididamente démodé Karl Marx chamava "as bases materiais da existência", determinadas pela economia política e as relações sociais.

É do que afinal se trata, porém - e lorde Gidden sabe disso perfeitamente -, quando se quer ir às "causas das causas" dos estilos de vida, para citar o professor de jornalismo Michael Pollan, da Universidade da Califórnia, autor de The Omnivore's Dilemma, ainda sem tradução em português. Pelo título do livro já dá para perceber que o prato de resistência do cardápio intelectual do professor é a alimentação.

Ele tem dito coisas sérias sobre as causas das causas do maior problema de saúde pública nos EUA (e do segundo principal fator de doença e mortandade no Brasil, depois do álcool), a obesidade. Dos 300 milhões de gordos e obesos do mundo, 180 milhões vivem nos EUA (3/5 da população) e 39 milhões no Brasil (2/5). Na América, o sobrepeso, principalmente masculino, é considerado uma epidemia.

Aqui, "a trajetória da obesidade é explosiva, sem sinal de arrefecimento", afirmou à revista Pesquisa, da Fapesp, o epidemiologista Carlos Augusto Monteiro, da Faculdade de Saúde Pública da USP. Em 2003, uma pesquisa do IBGE revelou que há mais gordos (27%) do que magros (9,5%) na população masculina de baixa renda.

As causas visíveis são sabidas. Na descrição de Monteiro, "o aumento substancial do teor de gorduras em geral e de gorduras saturadas na alimentação do brasileiro, a manutenção de níveis absurdamente elevados de consumo de açúcar e aumentos geométricos no consumo de alimentos processados, ricos em gordura, sal e açúcar, incluindo biscoitos, embutidos, refrigerantes e refeições prontas". Ou seja, a imitação da dieta americana.

Dos americanos mais pobres, bem entendido. Pollan, o professor, cita um colega da Universidade de Washington, Adam Drewnowski, que pesquisou quantas calorias US$ 1 é capaz de comprar num supermercado. Descobriu que compra 1.200 calorias de alimentos processados, do tipo cookies ou potato chips, mas apenas 250 calorias de cenouras. Ou, ainda, compra 875 calorias de refrigerantes, mas apenas 170 de suco de laranja.

Eis por que, contrariando a história, a dieta dos pobres nos EUA deixou de ser escassa e se tornou excessiva em calorias. Não se trata da livre escolha num aspecto particular de um estilo de vida reprovável, ou só um comportamento induzido pela maciça publicidade da indústria de junk food. Indo às causas das causas, chega-se aos montanhosos subsídios agrícolas que desde os anos 1970 não cessam de crescer na América.

Por força da Lei Agrícola - que se renova a cada 5 anos e que os colegas americanos de lorde Gidden estudam como o supra-sumo do poder do lobismo, sem que lhe ponham freios a Câmara ou o Senado americanos, e sem que a mídia informe a sociedade das obscuras cláusulas do texto -, Washington paga US$ 25 bilhões anuais aos plantadores de arroz, trigo, algodão, soja e, principalmente, milho.

Com uma perversidade adicionada: quanto maior for a produção, maiores serão os subsídios; ou, quanto maior a safra, maior a cifra dos cheques depositados nas contas dos fazendeiros. Antigamente, nos tempos de Roosevelt, o governo os defendia com políticas de preços mínimos e manutenção de estoques reguladores. Desde Nixon - e essa a origem da tragédia da obesidade nos EUA - o governo gasta não para proteger o agricultor nos tempos de vacas magras, mas para induzi-lo a superproduzir sem limites.

Dá naquele cálculo do pesquisador com US$ 1: os produtos "densos em energia", estourando de açúcares e gorduras derivados de milho e soja, custam uma fração do que os alimentos in natura ou derivados de culturas não subsidiadas. Pollan escreveu domingo na revista do New York Times que, entre 1985 e 2000, o preço das frutas e legumes aumentou perto de 40% nos EUA, já descontada a inflação, enquanto o dos refrigerantes - "milho líquido", diz ele - caiu 23%.
Em outubro de 2003, o professor já havia alertado para outra perversão comprovada: "Quando a comida é farta e barata, as pessoas comem mais ainda e engordam." Na "República da Gordura", explicou, "milho barato, transformado em carne barata, é o que permite ao McDonald's aumentar o tamanho de seus hambúrgueres" - e ganhar proporcionalmente mais do que lhe custou cada novo super Bic Mac.

E é assim também que a "nação fast-food" se reproduz numa cadeia mundial como a da famosa lanchonete. No entanto, uma parcela dos próprios americanos não esperou o Partido Democrata fazer o que o lorde-sociólogo aconselhou o trabalhista britânico, seu parente distante, em matéria de uma nova agenda progressista.

Eles começaram por conta própria a "votar com os seus garfos", nas palavras de Pollan. São inumeráveis as iniciativas voltadas em última análise para uma nova economia política da alimentação, embora os seus autores provavelmente desconheçam o termo.

Daí o formidável crescimento do mercado de produtos orgânicos - um setor que movimenta hoje em dia US$ 15 bilhões. No Brasil, em grau muito menor, a tendência é a mesma. Só falta alguém advertir os partidos da grande demanda potencial por novas políticas de estilos de vida - refeições incluídas.


Biodiversity, nutrition and health: making a difference to hunger and conservation in the developing world

Keynote Address to the Seventh Meeting of the Conference of the Parties to the Convention on Biological Diversity (COP 7)
Emile A. Frison,1, 3 Jeremy Cherfas,1 Pablo B. Eyzaguirre,1 Timothy Johns



Poor nutrition is also associated with a generally weakened immune system and thus with increased susceptibility to a wide range of infectious diseases.

The non-communicable disease consequences of malnutrition are to a large extent linked to a shift in diet that has been called the nutrition transition. This is a particularly urban phenomenon whereby diets, especially of the poor, have become much simpler. High-input agriculture, reduced transportation costs and agricultural subsidies have combined to make refined carbohydrates (wheat, rice, sugar) cheaper than ever in the cities of the developing world, where fried ‘street foods’ are often the most important dietary item for many poor people.

These refined foods provide adequate energy, but are bereft of other vital nutritional elements, and this lack is associated with ill health. For example, diabetes, cardiovascular disease and cancers have all been linked to oxidative stress and the presence of free radicals in the diet.4 Protective elements, such as anti-oxidant molecules, are generally lacking from refined foods, And yet among these anti-oxidant compounds, which include some important vitamins, are among the key nutritional elements that plants provide. So one way to mitigate the effects of the modern urban diet in developing countries would be to add diversity, in the form of plants, to the diet.

An irony of the nutrition transition is that it is linked to globalization, through trade and the
hegemony of Western cultural ideas, at a time when Western medicine is beginning to question the wisdom of the carbohydrate-rich affluent diet. In the developing world, people cleave to fashionable ‘modern’ foods and abandon the traditional diet as ‘backward’ and ‘poor’.

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